Empoderamento feminino: as recomendações do Summit W20 para o G20

Artigo por Judá Nunes

As rápidas mudanças tecnológicas estão redefinindo os desafios que enfrentamos na área de educação e os direitos humanos, exigindo ações urgentes para evitar o aprofundamento das desigualdades sociais. Desde o letramento básico para crianças, jovens e adultos até a inclusão e facilitação do acesso à infraestrutura digital para o desenvolvimento da aprendizagem ao longo da vida.

No contexto global, o “The Inclusive Internet Index” oferece uma visão abrangente sobre o estado da alfabetização digital em diferentes países, destacando métricas essenciais que avaliam a disponibilidade, acessibilidade, relevância e prontidão no uso da internet. No Brasil, essas rápidas mudanças tecnológicas representam um risco de agravamento das desigualdades sociais.

Atualmente, o Brasil ocupa a 38ª posição em disponibilidade de internet, o que indica que a infraestrutura para acesso à internet ainda não está entre as melhores do mundo. Embora tenham um desempenho relativamente bom em termos de qualidade (41ª) e infraestrutura (18ª), as colocações no uso (54ª) e na eletricidade (48ª) sugerem que o acesso e a utilização da internet podem não ser tão disseminados quanto se poderia esperar.

Além disso, observamos sérios problemas relacionados aos rápidos avanços da Inteligência Artificial (IA) e sua relação com a equidade de gênero. Segundo a ONU Mulheres Brasil, 3,7% dos empregos femininos têm maior probabilidade de serem realocados pela IA, em comparação com 1,4% dos empregos masculinos. No Brasil, o percentual de risco de automação é duas vezes maior para mulheres do que para homens, conforme aponta a OIT. Isso destaca como as tecnologias emergentes podem perpetuar desigualdades se não forem abordadas de maneira estratégica.

Adicionalmente, foi ressaltado que “globalmente, as mulheres gastam 2,5 vezes mais horas por dia em cuidados não remunerados e trabalho doméstico do que os homens”. Essa estatística ilustra não apenas a carga desproporcional que as mulheres enfrentam, mas também aponta para a necessidade urgente de transformar o trabalho de cuidado em trabalho remunerado.

Essas foram algumas das principais pautas levantadas no Summit Woman 20. Realizado entre o final de setembro e início de outubro deste ano, o evento trouxe à tona a urgência de implementar políticas que promovam a inclusão produtiva das mulheres, alinhando-se diretamente aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, maior transparência entre as organizações e ações perenes de equidade.

As recomendações do evento foram claras e diretas:

1- Investir em microcapital e empreendedorismo feminino é crucial para colocar mulheres no centro da transformação digital e do avanço tecnológico. O  empreendedorismo é super importante para empoderar e distribuir renda para mulheres e muitas vezes a sua única oportunidade de acesso a renda. 

2- A educação deve ser um pilar central nas políticas públicas. Camila Achutti destacou a importância da educação em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) como uma chave para o empoderamento econômico feminino.

3- É essencial desenvolver análises que avaliem a participação econômica das mulheres. Linda Laura Sabbadini em sua fala destacou que “É importante considerar a qualidade do trabalho para mulheres, além da quantidade de oportunidades.”

4- A violência contra as mulheres foi identificada como um obstáculo significativo à inclusão produtiva, mas também como um custo avassalador para a gestão pública. Políticas específicas devem ser renovadas, o uso de IA deve ser estratégico e as organizações devem criar canais de suporte  para proteger e apoiar as vítimas.

Com uma missão alinhada às recomendações do Summit W20, o Alicerce Educação tem investido na formação de competências que empoderam mulheres e comunidades vulneráveis. Transformar a educação em uma ferramenta estratégica para o avanço tecnológico e a inclusão de grupos vulneráveis é essencial para enfrentar as rápidas mudanças do mercado de trabalho. Ao investir na formação de competências em áreas como STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e outras habilidades necessárias para o futuro, o Alicerce contribui diretamente para a construção de um futuro mais inclusivo. O objetivo é assegurar que as mulheres, especialmente aquelas em contextos de exclusão, tenham as ferramentas necessárias para participar de forma equitativa da economia, transformando assim suas vidas e suas comunidades. Essa abordagem não apenas visa à inclusão, mas também cria um impacto duradouro na redução das desigualdades econômicas e sociais. 

Participar do Summit W20 foi uma experiência transformadora e inspiradora. Como uma travesti engajada na luta pela igualdade de gênero e pela educação como ferramenta para inclusão da diversidade, tive a oportunidade de ouvir vozes poderosas e discutir questões cruciais que afetam a participação econômica de todas as mulheres e crianças em todo o mundo. O evento não apenas destacou os desafios que enfrentamos, mas também apresentou um “communiqué”, orientações concretas e dados impactantes que podem moldar um futuro mais equitativo.

A participação no Summit W20 me deixou otimista quanto ao futuro da inclusão produtiva. No entanto, é evidente que ainda há muito trabalho a ser feito. Como enfatizou Neca Setubal: “Só conseguiremos mudar esse cenário acessando espaços de poder.” Essa afirmação ressoa como um chamado à ação. 

O Summit W20 não foi apenas um espaço de discussão; foi um incidente para ação. Pois muito mais importante do que criar documentos é implementar ações concretas que façam diferença. A principal orientação para garantir que as recomendações sejam levadas a sério pelos representantes dos países no G20 — que neste ano acontecerá no Rio de Janeiro — foi clara: “divulguem em massa nosso ‘Communiqué’”, disse Ana Fontes. 

Para conhecer o “Communiqué” acessem: https://w20brazil.org.br/pt-br/ 

E para aqueles que querem ir um pouco além,  sugerimos uma lista das ações concretas e urgentes, que podem ser abraçadas por qualquer pessoa interessada em apoiar a inclusão produtiva das mulheres:

– Divulgar o “Communiqué” do Summit W20 e engajar nas discussões em redes sociais; 

– Incentivar políticas públicas que fortaleçam a educação em STEM para mulheres e meninas.;

– Apoiar iniciativas de empreendedorismo feminino; 

– Pressionar por medidas que transformem o trabalho de cuidado em trabalho remunerado;

– Participar e contribuir para a criação de ambientes seguros para mulheres no trabalho, ajudando a promover políticas de combate à violência contra as mulheres;

– Conhecer ações que apoiem a  inclusão e o desenvolvimento de competências para mulheres e grupos vulneráveis, assim como o trabalho desenvolvido pelo Alicerce Educação, uma organização comprometida com a diversidade e o combate a desigualdade social.

 

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