Quatro anos da morte de George Floyd: a luta contra o racismo ainda está longe de terminar
A morte de George Floyd em 25 de maio de 2020, consequência da brutalidade policial em Minneapolis, foi um grito que ecoou pelo mundo. Em um ato de violência gravado, eternizado e exaustivamente disseminado pela mídia tradicional e pelas redes sociais, que durou exatos oito minutos e quarenta e seis segundos, o suspiro final de Floyd se transformou em um movimento global, relembrando memórias ancestrais de opressão e resistência.
Desde aquele momento, a sociedade mundial se viu em convulsão. As ruas foram tomadas por protestos, de Minneapolis a Londres, de Paris a São Paulo. Milhões marcharam exigindo justiça não apenas por George Floyd, mas por todos os corpos negros que, ao longo da história, foram reduzidos a cifras em estatísticas de barbaridade. Essa insurgência não era apenas contra a violência física, mas contra a violência estrutural e sistêmica que perpetua a marginalização racial.
Nas semanas e meses seguintes, o movimento Black Lives Matter ganhou uma visibilidade sem precedentes. Em meio às chamas das revoltas e aos cantos de “I can’t breathe”, as redes sociais se tornaram palcos de solidariedade e conscientização. Hashtags como #BlackLivesMatter e #JusticeForGeorgeFloyd dominavam as timelines, um testemunho digital de resistência.
Entretanto, essa nova era de ativismo digital também trouxe consigo um fenômeno complexo: o ativismo performativo. Marcas e influenciadores rapidamente aderiram ao movimento, utilizando a tragédia como uma ferramenta de marketing. De repente, empresas que nunca antes haviam se pronunciado sobre questões raciais inundaram suas plataformas com mensagens de apoio e comprometimento.
Embora algumas dessas ações fossem genuínas, muitas outras não passavam de tentativas superficiais de ganhar relevância em seus nichos, uma mercantilização da dor negra. Essa apropriação mercadológica é uma reflexão sombria do capitalismo tardio, onde até mesmo a luta por direitos fundamentais pode ser cooptada como estratégia de venda. No entanto, devemos questionar: esses gestos são suficientes? Ou são apenas formas de silenciar as vozes que clamam por mudanças reais, enquanto perpetuam o status quo?
Ao mesmo tempo, o discurso racial se consolidava como uma ferramenta poderosa na argumentação online e nos espaços midiáticos. Discussões sobre racismo estrutural, privilégio branco e justiça social tornaram-se mais comuns, embora muitas vezes reduzidas a debates polarizados e superficialidades. A proliferação de informações nem sempre vem acompanhada de profundidade e entendimento, uma falha que Grada Kilomba frequentemente aborda em suas críticas ao discurso colonial.
Em meio a esse cenário, estudiosos e ativistas têm se empenhado em trazer dados antropológicos, sociológicos e filosóficos para o centro das discussões. Pesquisas mostram que a discriminação racial afeta todas as esferas da vida de pessoas negras, desde o acesso à educação formal e saúde, até as oportunidades de emprego. Em um estudo recente, o Pew Research Center revelou que, nos Estados Unidos, 71% dos negros afirmam que foram discriminados ou tratados injustamente por causa de sua raça.
Kilomba, em sua escrita profundamente pessoal e incisiva, nos lembra que o racismo não é apenas uma série de eventos isolados, mas uma condição cotidiana que permeia as experiências de pessoas negras. Ela narra histórias de microagressões diárias, olhares suspeitos e palavras veladas, que constroem uma narrativa contínua de exclusão e desumanização.
Assim, chegamos ao presente. A morte de George Floyd foi um ponto de inflexão, mas a luta está longe de terminar. A justiça racial continua a ser um campo de batalha para a disputa de narrativas, tanto nas ruas quanto nas plataformas digitais.
A verdadeira transformação exige mais do que hashtags e campanhas publicitárias; requer um compromisso profundo e contínuo com a equidade racial. Em um mundo que frequentemente trata a dor negra como mercadoria, precisamos ouvir as vozes que desafiam o silêncio imposto e reivindicam a narrativa das suas próprias histórias. Porque, como bem sabemos, a memória não é apenas sobre o passado, mas sobre como escolhemos moldar o futuro.
Compromisso do Alicerce
Combater o racismo é urgente, necessário, e só conseguiremos juntos. Foi visando oferecer informação, conscientização, formação e acolhimento em tudo que tange a temática racial dentro do Alicerce que criamos o IPILE.
IPILE (que significa “alicerce” em iorubá, um dos maiores grupos étnico-linguísticos da África Ocidental) é um núcleo instituído para gestão das relações raciais em nível pedagógico e organizacional.
Na prática, o IPILE atua desenvolvendo banco de atividades afro referenciadas trabalhadas com alunos em sala de aula, letramento racial e formação contínua para todos os colaboradores, gestão de processos seletivos exclusivos para lideranças negras, criação de canais de comunicação internos e externos, valorizando a cultura afro-brasileira, participação no comitê multidisciplinar de diversidade, promovendo debates sobre o assunto e parcerias externas para a promoção e valorização da população e da cultura afro diaspórica.
Comitê Raça
O debate étnico racial na sociedade é de extrema importância e o Alicerce faz parte desse movimento. As empresas têm buscado uma postura mais ativa no combate ao racismo estrutural, por isso, nos unimos à Revista Raça para criar um comitê de empoderamento racial: o Comitê Raça Alicerce.
O Comitê Raça Alicerce é um comitê consultivo e multidisciplinar composto por profissionais especialistas negros de diversas áreas, com autonomia para interceder na governança do Alicerce Educação, deliberar ações, demandar posicionamentos, subsidiar e fiscalizar as iniciativas antirracistas.
O Comitê Raça Alicerce nasce com a missão de levar educação com excelência para mais pessoas, começando justamente por quem mais precisa: a população negra empobrecida.
A educação é uma ferramenta fundamental para a promoção da inclusão social e o combate às desigualdades. Por isso, estamos comprometidos em oferecer uma educação de qualidade para a população negra, valorizando sua história e sua cultura e contribuindo para sua emancipação.
Queremos construir um futuro mais justo e igualitário para todos, onde as diferenças sejam valorizadas e respeitadas, a fim de promover a equidade racial na educação e construir as condições para uma sociedade pós-racial.
Assine nossa newsletter para receber conteúdo exclusivo
Ao assinar a newsletter, declaro que conheço a Política de Privacidade e autorizo a utilização das minhas informações pelo Alicerce.